Estudo revela que quase 90% dos docentes acreditam que profissão não é valorizada
A maioria dos professores alagoanos se sente desvalorizada, desprestigiada, sem estrutura de trabalho e sem condições financeiras para investir em formação continuada. Eles não fogem ao parâmetro atestado na Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis) da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), quando ficou confirmado que quase 90% dos docentes brasileiros acreditam que a profissão não é valorizada na sociedade.
A realidade do estado é ainda pior. Com salários baixos (são pagos R$ 1.300 por 20 horas-aula por semana), sem oportunidades para aperfeiçoamento e ainda tendo que conviver com ameaças e insegurança nas unidades de ensino, o desinteresse pelos cursos de licenciatura é cada vez maior, o afastamento por doenças psicológicas ou físicas aumenta, fazendo com que cresça a carência de docentes na rede pública de ensino. Atualmente, segundo o sindicato da categoria, há um deficit de 2.500 professores em Alagoas.
A pesquisa ouviu 100 mil professores e diretores escolares em 34 países. Somente 12,6% dos professores brasileiros se sentiam valorizados. A média internacional é de 30,9%. O levantamento indica que os docentes do país são os que mais trabalham, com 25 horas de ensino por semana. Os dados ainda apontam que os brasileiros gastam muito tempo para controlar a disciplina em sala de aula e que falta formação continuada. Em Alagoas, a realidade segue esse perfil e o medo do futuro faz com que muitos professores migrem para outras áreas e mudem o foco.
Há 19 anos em sala de aula, o professor de Matemática Adelmo Apolinário Silva Júnior é um exemplo real de amor à profissão. Lecionando uma das disciplinas mais temidas do currículo, ele lembra que o desgaste e o cansaço mental e físico nem sempre são fatores decisivos para a desmotivação. Porém, o profissional diz concordar que a desvalorização insiste em permanecer na área da Educação, fato que o deixa reflexivo, principalmente com relação à defasagem salarial. Outra questão ressaltada é a indisciplina dos alunos, também objeto da pesquisa, e que, por pouco, não tirou Adelmo do ambiente escolar. “Já fui ameaçado por um aluno há dois anos. Na época, registrei a ocorrência na polícia, os pneus do meu carro foram esvaziados em tom de ameaça. Tudo isso aconteceu porque coloquei o aluno para fora da sala de aula após uma confusão. Hoje, tenho muito receio, limitação ao falar e meço as palavras”, relatou.
Na rede estadual desde 2001, o professor revela que a situação atual é a pior desde quando ele ingressou no serviço público. Ele lembra o direito à isonomia, conquistado em 2006, no governo Ronaldo Lessa, e que permitiu o dobro nos salários da categoria. Desde então, o ganho real dos professores de Alagoas foi mínimo e, em sete anos, aumento somente com base na inflação, como aconteceu com outras classes de trabalhadores. Além disso, Adelmo lembra que o Estado não oferece cursos para formação continuada.
“O reajuste salarial para os professores só é lembrado em período eleitoral”, comenta o professor, que ensina nos colégios Moreira e Silva e Afrânio Lajes, no Centro Educacional de Pesquisas Aplicadas (Cepa), em Maceió.
“O que me motiva a continuar, apesar de salários baixos e falta de estrutura, é perceber que há alunos que ainda querem aprender”, relata.
Fonte: Gazeta de Alagoas (THIAGO GOMES – REPÓRTER)