Confira entrevista do presidente do Sinpro/AL para Tribuna Indepedente

 

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Professor Eduardo Vasconcelos revela o descaso na educação privada em Alagoas

O presidente do Sindicato dos Professores de Alagoas (Sinpro/AL), Eduardo Vasconcelos, falou com a reportagem da Tribuna Independente sobre sua posição em relação às condições do trabalho dos educadores, a atual política de desvalorização e as recentes denúncias que ele tem encaminhado ao Ministério Público do Trabalho e Ministério do Trabalho e Emprego. Em pouco menos de um ano houve uma revolução estrutural no Sinpro/AL, uma luta capitaneada por Vasconcelos e a nova diretoria.

Mesmo sendo um sindicato da rede privada de ensino, Vasconcelos diz ser a favor de uma escola pública, gratuita e de qualidade, pois só através da educação é possível uma verdadeira transformação social no Brasil. Militante de esquerda, o presidente do Sinpro/AL atualmente encabeça o comando da Raiz, um movimento que nasceu a partir da dissidência da Rede – de Marina Silva -, quando decidiu apoiar Aécio Neves no segundo turno durante as eleições presidenciais.

“Hoje a Raiz é uma realidade, já nasceu forte, é uma nova alternativa para esquerda brasileira, que hoje está tão desacreditada com o que vem ocorrendo no País. A Raiz tem posições firmes e coerentes. Em breve vamos para as ruas colher as assinaturas necessárias para que tornemos partido”, colocou Vasconcelos.

Saiba mais sobre atuação do Sinpro/AL em Alagoas:

 

Tribuna Independente – Qual o principal problema da educação privada em Alagoas?

Eduardo Vasconcelos – São vários. Com a precariedade da educação pública em Alagoas se criou uma verdadeira indústria de estabelecimentos de ensino no Estado e muitos deles sem as devidas condições para se quer existir. Hoje contamos com uma quantidade absurda de informalidade, professores sem Carteira de Trabalho assinada, professores com salários atrasados, onde, muitos são vítimas de coação e assédio moral, as estruturas físicas são sucateadas.

Ao longo dos anos se criou uma cultura do que é privado é bom, mas isso é um engano. Escolas e faculdades agem muita das vezes como verdadeiros caça-níqueis, afim, apenas do lucro sem respeitar a Legislação Trabalhista e os alunos.

TI – Como coibir essas irregularidades?

EV – Estou à frente do Sindicato vai fazer apenas um ano, mas durante esse tempo foi feito mais denúncias para os órgãos competentes do que nas gestões passadas. Não vou querer entrar no mérito do que era feito no Sinpro/AL anteriormente e a quais grupos o ex-presidente estava atrelado, até porque as autoridades competentes estão cuidando de tudo isso.

Hoje fiscalizamos in loco as escolas, hoje temos em nosso site (www.sinpro-al.com.br) o  espaço da ouvidoria, temos os disk denúncia e um contato de whatsapp direto para os professores. A tecnologia e a acessibilidade dos professores ao Sinpro trouxe de volta a certeza que a entidade classista está em defesa da categoria; tanto que o lema da nossa gestão é: “Somos professores com orgulho e exigimos respeito”.

TI – Quem são os principais alvos das denúncias do Sinpro?

EV – Todos aqueles estabelecimentos de ensino que ferirem os diretos dos professores e desrespeitarem de alguma forma os docentes. Ainda há uma cultura feudal nas escolas e faculdades, mas aos poucos vamos mudar essa realidade. Não podemos ser tratados como capachos ou sermos subserviente; somos profissionais e estamos prontos para exercer nossa atividade como maior zelo e dedicação.

TI – Durante sua gestão alguns casos chamou sua atenção?

EV – Inúmeros. Tem professores que eram obrigados a lavarem as salas de aula e outras dependências da escola. Esse não é o papel do professor, mas sim dos serviços gerais. Cada um deve ter delimitado seu espaço de educação. Em várias oportunidades flagramos denúncias de educadores recebendo R$ 300, R$ 400, R$ 500 mensais. O desrespeito ao piso da categoria chega a  ser uma prática comum.

TI – O que fazer nesse tipo de situação?

EV – Já acionamos o Ministério Público do Trabalho e estamos tentando dialogar com as escolas e faculdades, ou os estabelecimentos de ensino se adéquam a legalidade ou sofrerão sansões da Justiça e em último caso terão que fechar as portas. Os professores não podem ser desqualificados ou preteridos pela irresponsabilidade e os abusos do setor patronal.

TI – Professor, recentemente o Sinpro se posicionou de forma oficial sobre as Os no Estado e o projeto Escola Livre. Qual sua posição sobre os casos?

EV – O Sinpro/AL é filiado a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee) e temos posições claras em relação a educação estatal, onde defendemos uma educação pública, gratuita e de qualidade. É certo, se tivermos uma educação pública cada vez mais qualificada teremos uma educação privada melhor; é um efeito em cadeia. Não podemos investir no sucateamento do público para que o privado prevaleça, isso seria um absurdo.

Em relação as Os colocamos que Lei 618/2015 que institui o processo de terceirização do serviço público no Estado como em áreas da educação, saúde, ciências e tecnologia e cultura gera a precarização dos trabalhadores e da relação entre os serviços públicos e a sociedade, como se pode observar no modelo implantado atualmente pelo Estado do Rio de Janeiro.

Já o projeto Escola Livre fere uma série de princípios Constitucionais, entre eles a liberdade de expressão. O Sinpro/AL classifica a medida como um retrocesso, pois acredita que o educador é um pensador, personagem indispensável nas lutas de classe e um agente de transformação social.  A diretoria do Sindicato dos Professores espera que o veto do governador Renan Filho seja mantido pelos deputados estaduais.

TI – Eduardo você sempre manteve uma ligação com a esquerda alagoana. Em paralelo ao Sinpro/AL, como anda o projeto da Raiz em Alagoas?

EV – Já fui filiado a partidos de esquerda e dei minha contribuição para cada em determinado momento. Estive no Partido dos Trabalhadores e recentemente no PCdoB, por onde passei deixei amigos, acumulei experiências e deixei minha contribuição. Todos foram importantes para mim, mas fui convidado para capitanear um projeto nacional que também está em Alagoas. A Raiz nasce como um movimento e em breve tomará status de partido político.

Com princípios de esquerda, em defesa do socialismo e de um política partidária transparente vamos começando a dar corpo ao Raiz em Alagoas. Estou dialogando com sindicalistas, profissionais liberais, pessoas da sociedade como um todo. A Raiz tem pessoas do porte de Luiz Erundina, que tem como a conduta ilibada o seu norte político.

Vamos construir um partido de homens e mulheres de bem, sem transformá-lo em balcão de negócios ou instrumento de relações espúrias com quem quer que seja. A Raiz nasce grande e sabendo onde quer chegar e sabendo quem quer defender.

TI –  Você é candidato em 2016?

EV – Não sou candidato. Recebi vários convites, agradeço a todos, mas o momento é de debruçar em defesa dos professores e de construir a Raiz da melhor forma no Brasil e em Alagoas. A política partidária é um instrumento de transformação social e cada vez que pessoas de bem avancem nesse sentido teremos representantes cada vez melhores. Não podemos ter aquele pensamento pejorativo, do senso comum: quem se mete em política é bandido, ladrão, vigarista. Temos sim, nós trabalhadores, demarcarmos nosso espaço e defender os interesses de um povo.

TI – A Raiz vai apoiar candidatos em 2016?

EV – Certamente não podemos ficar alheio ao processo político de outubro, mas só vamos apoiar siglas e nomes que estiverem alinhados com o ideal da Raiz, em defesa do social e da população. Faço parte da executiva nacional da Raiz e temos isso muito claro em nossas recentes discussões, ocorrida no último mês de janeiro em Porto Alegre.

TI – Falta um nome da área da educação na política partidária em Alagoas. Você seria esse nome?

EV – É muita pretensão eu dizer que sou isso ou aquilo, mas o que existe de fato é um trabalho efetivo em defesa dos professores, em defesa de uma educação de qualidade e isso é inegável. Estamos construindo a Raiz passo a passo, com inteligência, sem afobação, o tempo será o senhor da razão. Não tenho essa vaidade de ser o nome para isso ou aquilo, eu tenho um projeto para educação infinitamente mais amplo do que um mandato público.